A Moldávia entra neste domingo, 28, em um impasse semelhante ao da Ucrânia, com as eleições que definirão o rumo político do país. Mais do que uma simples disputa parlamentar, o pleito é visto como um divisor de águas: ou o país fortalece a aproximação com a União Europeia (UE), iniciado nos últimos anos, ou retorna à esfera de influência de Moscou.
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A expectativa em torno da votação se mistura a alertas sobre possíveis tumultos, sabotagens e campanhas de desinformação, relata o The Times of Israel. Autoridades moldavas afirmam que o pleito pode ser alvo de ameaças falsas de bombas, apagões temporários e até violência nas ruas, organizada por grupos treinados.
Nas últimas semanas, a polícia intensificou operações de segurança, com centenas de batidas e detenções. Moscou rejeita todas as acusações, classificando-as como “antirrussas” e “sem fundamento”. O país iniciou uma guerra em 2022 contra Ucrânia, para conquistar territórios e evitar que o governo ucraniano aderisse à (UE).
O primeiro-ministro Dorin Recean tem insistido que o país enfrenta uma tentativa de desestabilização. Segundo ele, a Rússia estaria destinando “centenas de milhões” de euros a uma “guerra híbrida” para influenciar o resultado do pleito. Recean declarou: “Eu conclamo todo moldavo, em casa e em toda a Europa: nós não podemos mudar o que a Rússia faz, mas podemos mudar o que fazemos como povo”, afirmou, antes de completar.
“Transformem a preocupação em mobilização e em ação consciente… Ajudem a parar seus esquemas.” Recean descreveu a disputa como “a batalha final pelo futuro de nossa nação”.
O sistema político moldavo prevê que, depois da escolha dos 101 parlamentares, o presidente indique um primeiro-ministro, geralmente do partido ou bloco mais votado. Este terá a tarefa de formar um governo e submeter sua proposta ao crivo do Parlamento. Essa engrenagem institucional torna o resultado da eleição ainda mais decisivo. Qualquer impasse pode levar a semanas de negociações e instabilidade.
O desafio central da eleição é decidir se a Moldávia seguirá na rota de integração à UE ou se voltará a se alinhar a Moscou. O Partido da Ação e Solidariedade (PAS), no poder desde 2021 com maioria parlamentar, tenta renovar sua força política, mas corre o risco de perder espaço para adversários simpáticos à Rússia.
Entre eles, destaca-se o Bloco Eleitoral Patriótico, que defende “amizade com a Rússia” e “neutralidade permanente”. Outras legendas em disputa são o populista Nosso Partido, que pede uma “política externa equilibrada”. O Bloco Alternativa se declara pró-Europa, mas é acusado de buscar proximidade com Moscou.
Moldávia enfrenta crises
Apesar das pressões externas, fatores internos também pesam. O país, encravado entre a Ucrânia e a Romênia, membro da UE, enfrenta há anos uma sucessão de crises. Inflação elevada, encarecimento do custo de vida e altos índices de pobreza corroeram parte do apoio ao governo.
Esse descontentamento pode favorecer o avanço da oposição. Pesquisas locais indicam que o PAS deve ser o mais votado, mas quase um terço do eleitorado ainda não decidiu e as sondagens não incluem os moldavos que vivem no exterior. Em 2021, a participação foi de apenas 48%.
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Esse eleitorado da diáspora, entretanto, pode ser decisivo. No segundo turno presidencial do ano passado, considerado também um embate entre Leste e Ocidente, mais de 327 mil cidadãos votaram fora do país e mais de 82% optaram pela presidente Maia Sandu, que foi reeleita.
Para analistas, como Iulian Groza, do Instituto de Políticas e Reformas Europeias, uma mobilização maior neste domingo pode novamente favorecer o PAS. “Qualquer partido no governo tem uma tendência de erosão no apoio público, e nos últimos quatro anos, a Moldávia passou por múltiplas crises”, afirmou ele.
“Depois de quatro anos… apesar das várias crises que tivemos, eu acho que podemos dizer muito claramente que a Moldávia resistiu diante desta agressão russa.”